"With the house lights on, the
ceiling suggested a cloudy blue sky; when the lights dimmed, twinkling stars
appeared. In place of boxes, six side windows were softly lit from behind to
suggest twilight outside." - John Vacha, Showtime In Cleveland
O cinema sempre foi gestor da ilusão. Não seu único gestor, mas um muitíssimo aplicado. Desde os irmãos Lumiére, o cinema se debruça sobre a mágica, sobre o espanto, sobre o encantamento. Existe enquanto espaço físico, onde se dá a projeção, na ambientação que pode ser proporcionada, e também existe enquanto estado imaterial, como um torpor de teor filosófico, um momento paralelo, destacado pela realidade.
As salas de cinema, historicamente, eram entendidas como palácios, templos de adoração à imagem em movimento, e nunca a princípios religiosos que hoje assolam edificações que tiveram a felicidade de um dia abrigar a sétima arte.
Desde a entrada você era convidado a mergulhar numa outra qualidade do espaço- tempo, que te afastasse da sua vida ordinária e pudesse te fazer vislumbrar histórias extraordinárias. Os salões de espera sempre muito bem decorados, charmosos, propícios ao dar-se a ver, emoldurados por cartazes coloridos e pomposos, e adoçados por uma farta bomboniére.
Depois, você era convidado ao universo interior da sala propriamente dita, sempre muito escura, para favorecer a projeção tanto quanto o nascimento dos sonhos. Imerso nesse ambiente que sub-repticiamente te conduz a outro estado de consciência, é impossível não sonhar. Em algumas salas – diria o mestre João Luiz Vieira – a arquitetura do teto era em forma de abóboda, com estrelinhas pintadas. Sutilezas de um aplicado gestor da ilusão.
Angariando principalmente as funções da sala de espera, os corredores do shopping propiciam o ver e ser visto, a explosão de cores nas vitrines, as praças de alimentação que trazem delícias do mundo ao alcance da sua mão. É na extensão desses corredores que, mesmo sem adentar o cinema, você pode se perder no tempo, visitar uma realidade paralela, enquanto a vida corre lá fora sem que você se dê conta. Às salas de cinema, agora meros caixotes de cunho prático, guardam apenas a ilusão da projeção propriamente dita, que a grosso modo, pode acontecer no Café Paris ou em qualquer lugar, sem que a arquitetura e a ambientação sejam uma influência particular. E é assim, de pouco em pouco, que a magia das salas de cinema esvanecem.
Urano, o espaço, é pai de Cronos, o tempo. Ambos são famigerados que comem os próprios filhos.
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