porquê

A história de uma cidade está inscrita também em seus edificios. Cada prédio, em sua arquitetura, e o conjunto dos prédios, em sua urbanidade, estimula padrões de comportamento, sugerindo fluxos ou criando pausas, suspensões. As construções produzem lugares de permanência ou de passagem, e "o traçado urbano, antes de ser inócuo ao corpo citadino, ensina o corpo a mover-se". Não seria exagero afirmar que o hábito de frequentar salas de cinema forjou parte importante da identidade urbana no século XX, não apenas no Brasil, mas em muitos países. Certa experiência de cidade, de percepcão do tempo, do espaço e dos corpos. Do fascínio exercido pelas primeiras salas escuras, que incitavam novos modos de convivência, observação e flânerie, aos Cine Teatros que iluminavam os bulevares e redefiniam a paisagem urbana. Da lanterna mágica exibida nas feiras de variedades pelos pioneiros aos grandes palácios construídos entre guerras, o cinema de rua viveu seu apogeu e decadência. Se como acredita Will Eisner, os edificios têm alma, o que dizer dos edifícios que abrigaram salas de cinema e foram demolidos ou cederam lugar a lojas de departamentos, igrejas, estacionamentos? Além da alma e da memória do espaço, estariam também estes territórios embebidos pelos espíritos dos filmes que por ali passaram? Os filmes habitam os prédios? Que rastros os cinemas podem deixar? O que uma arqueologia dos cinemas perdidos poderia nos ensinar?


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