sexta-feira, 5 de abril de 2013

Assombrações Cearenses

Fantasma da rua

Projeto Cine Fantasma chega a Fortaleza para recontar a história das extintas salas de cinema do Centro da Cidade

DIVULGAÇÃO
Projeções do Cine Fantasma no Rio de Janeiro: ação aponta para o contexto urbano que tem levado à extinção dos cinemas de rua
 
Houve um tempo em que o Centro de Fortaleza abrigava importantes salas de cinema. Nem é preciso muita idade para relembrar isso. Trinta e poucos anos já basta. Quem tem mais do que isso, também deve lembrar das luxuosas exibições do Cine São Luiz, com o público chegando de fraque ou vestido longo. Com o tempo, essa pompa foi sumindo e o público migrando para as salas dos shopping centers. No coração da Cidade, os cinemas foram sendo abandonados, modificados, sendo usados para outros fins. E aquele público, que outrora tirava a tarde para um cineminha no Diogo ou no Jangada, virou fantasma.

Para evitar que essa memória se perca, alguns desses fantasmas voltam hoje a tomar conta do Centro. Quem tiver coração fraco ou medo de assombração, pode ficar tranquilo porque esses são fantasmas do bem. Idealizado pela doutoranda em Artes Visuais da UFRJ, Paola Barreto, o projeto Cine Fantasma nasceu no Rio de Janeiro, mas já recebeu propostas para viajar para várias cidades brasileiras.

A proposta do Cine Fantasma é impactar os passantes com uma movimentação em torno da memória dessas salas e da própria cidade. Para isso, eles começam com um cortejo, que aqui vai passar pelos locais onde, antes, funcionavam os cinemas Jangada, São Luiz, Majestic, Fortaleza, Samburá e Diogo. Com a ajuda de um carro e de um projetor, o grupo vai reproduzir nas fachadas dos prédios fotos antigas, cartazes e cenas de filmes que um dia foram exibidos em cada um desses espaços.

“Esse projeto nasce de uma constatação de que as salas de cinemas de rua estão acabando. Elas já fizeram parte de muitas gerações, mas estão sendo extintas. No Rio, estamos vendo quarteirões sendo varridos pelas mudanças da cidade. É uma parte da memória que se perde”, explica Paola, por telefone. Aprovado no edital Coletivideia, o Cine Fantasma conta com uma equipe no Rio e com a ajuda de muita gente que fornece documentos, imagens e informações. Tudo isso é agrupado num “banco de dados paranormal” e disponibilizado no facebook e no blog do projeto.

Em Fortaleza, as atividades acontecem a convite da pós-graduação em Artes da UFC, que também montou uma equipe de pesquisadores que estão sendo orientados por Paola Barreto. “A ideia é montar equipes locais, com pessoas que tenham história com esses lugares e que comecem a trabalhar nessa perspectiva de pesquisa”, explica ela, que não esperava tanta repercussão para seu projeto. “O embrião do Cine Fantasma vem dessa saudade que eu tenho dos cinemas, mas é muito importante essa dimensão coletiva que o projeto tomou. Você começa a descobrir que todo mundo tem uma história de cinema pra contar”, continua.

No entanto, Paola ressalta que o Cine Fantasma não parte de uma ideia saudosista nem luta, simplesmente, para que as salas voltem a abrir. “Esse projeto trata também sobre o uso dos espaços da cidade. Gostaríamos de chegar numa valorização desses espaços que têm uma importância grande na construção da identidade das cidades. Não sei o que poderia se fazer com alguns deles, mas que não fosse um estacionamento”, acrescenta ela citando outras questões que permeiam a discussão, como a presença forte do cinema estrangeiro, as mudanças do contexto histórico e o download legal ou ilegal de filmes. “Alguma hora eu vou ter que parar com o Cine Fantasma porque tenho que escrever minha tese. Mas é o que eu digo aqui: você tem um cinema fechado? Tem imagens? Tem um carro? Um projetor? Vai lá e faz a mesma coisa”, provoca.

SERVIÇO

Cine Fantasma
O quê: cortejo e videointervenção nos antigos cinemas do Centro de Fortaleza
Onde: Centro (sem local definido)
Quando: sexta-feira (5), sem horário definido 
Quanto: aberto ao público


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